quinta-feira, 12 de junho de 2014

Soul Eléctrico

Imagem de divulgação da Kia

  O trocadilho do título foi deliberado. O Kia Soul eléctro teve sua produção iniciada. Nos países lusófonos e até nos hispânicos, a piadinha será inevitável. Quando os americanos descobrirem isso, sai de baixo!


  Os primeiros protótipos, mostrados há cerca de dois anos, rodavam em média 160km e tinham preço previsto para produção na casa dos US$ 40.000,00. Mas os custos das baterias e seus apêndices caíram bastante, e cairão mais com a invenção portuguesa de um resfriador cerâmico. Com lançamento oficial em Julho, ele custará US$ 33.000,00 e rodará em média 216km com uma carga.

Imagem de divulgação da Kia

  Ele tem duas marchas, uma normal e uma reduzida, o que provavelmente torna seus 109cv aptos a puxar um trailer, embora esperar oito horas para uma carga completa em uma tomada de 110v seja frustrante. Em uma de 240v o tempo cai pela metade, e 80% da carga se completam em 33min nesta voltagem. Como raramente um carro eléctrico fica sem bateria, dá para planejar uma viagem média em velocidade moderada.

  A velocidade máxima é de 142km/h, a mesma do Fusca Itamar a álcool. A aceleração de 0 a 100km/h é feita em bons 12s.

  A recarga é feita pelo plug que está atrás da capa que substitui a grade, e lhe dá um aspecto de Playmobil, reforçado pela combinação de cores: azul ou cinza com teto branco e branco com teto azul, sendo que a cor do teto vai para os retrovisores e alguns contornos. Dependendo do caso, engraçadinhos podem constranger um homem que o dirija, chamando-o de "carro da Barbie".

Imagem de divulgação da Kia

  Para compensar, o interior é sóbrio, contrastando com a própria versão a combustão do Soul, todo em tons de cinza e painel equipado com tudo o que o Soul vendido por aqui oferece. O espaço interno, à exceção do porta-malas, é elogiável, um carro pensado para abrigar cinco ocupantes com conforto, e algumas comprinhas para quando voltarem da diversão noturna. Malas são outra história.

  Ainda sem previsão para vir ao Brasil, mas o crescimento absurdo da venda de híbridos no país talvez faça a Kia pensar no caso. De qualquer forma, por aqui não custaria menos de R$ 150.000,00. Manutenção e custo operacionais são medíocres, mas o preço se reflete no IPVA e nos seguros, então seria um mimo para poucos mesmo. Vale à pena? Sinceramente, eu não sou o público do Soul, optaria pelo espaçoso e familiar Dobló sem pensar duas vezes, mas para o público dele sim, vale à pena.

Imagem de divulgação da Kia

 Páginas do Soul Ev, clicar aqui e aqui.

terça-feira, 3 de junho de 2014

O Gol Eléctrico; 50.000km


  Muitas vezes eu me pergunto sobre as condições em que os carros eléctricos são testados. O facto é que a autonomia e o desempenho divulgados, quase sempre ficam bem aquém do que os proprietários registram no cotidiano. Por exemplo, a autonomia divulgada raramente informa a velocidade de cruzeiro, a velocidade média, o alcance comparativo entre uso urbano e uso rodoviário, coisas a que quem conheceu a saudosa Quatro Rodas se acostumou, porque serviram de parâmetro para as revistas que chegaram depois.

  É mais ou menos como nos testes de aceleração, onde os pilotos de testes aceleram como um cidadão comum aceleraria, com trocas normais de marchas e tudo mais. Na vida real, o desespero transforma o Senhor Andante no Senhor Volante, e longevos quase 17s que o Mille levaria para ir de 0 a 100km/h caem muito. Asim como tem gente que consegue sim fazer os 70km/l que a Honda anuncia para sua pequena Bis 100cc.

  Bem, um dos temores do consumidor, especialmente quem compra carro suado, é ter que trocar um banco de baterias inteiro a cada dez anos de uso, ou cerca de mil ciclos, pois ainda é um aparato caro. Apesar de os custos de manutenção serem medíocres, a substituição delas ainda é bem cara, algo como ter que trocar um motor, em vez de fazer a retífica. Dez anos de uso, em condições normais, significa rodar de quarenta a cinqüenta mil quilômetros, após o quê as baterias perderiam gradualmente capacidade de recarga.

  Aqui temos uma realidade bem melhor do que a teoria, para variar. A Tesla, por exemplo, divulga autonomia de até 520km para o Model S com pacote de 85kWh, mas muita gente roda 600km ou mais com ele sem precisar parar. Se os dados de autonomia foram subestimados, provavelmente por pressão do departamento de market, então os de durabilidade também podem ter sido. E foram.

  Um exemplo é o bem construído Gol 1000 ano 2008 que o engenheiro Elifas Gurgel converteu para tração eéctrica, tendo-o tirado zero quilômetro da loja e dado adeus à garantia, para fazer a conversão. A compra do carro mais a conversão custaria cerca de R$60.000,00, preço que cairia significativamente se a montadora fizesse o serviço em suas fábricas, por comprar no atacado e poder fazer a instalação antes da montagem da mecânica a combustão.

  Desde então, sem qualquer sistema sofisticado para resguardar a integridade das baterias, a autonomia média se manteve nos 150km. Não decaiu um km sequer. Nada mau para uma conversão feita sem o apoio do fabricante!

  O carro é utilizado na dureza do cotidiano de Brasília, onde as avenidas amplas e largas permitem médias de velocidade bem altas, e onde a guarda de trânsito costuma ser mais tolerante com alguns km;h a mais. Tudo o que ele precisou trocar foi um fusível de 400Ah, que não foi vítima da corrente, mas do excesso de vibração de pavimentações precárias.

  A velocidade máxima permanece bem próxima à original, cerca de 150km/h. A aceleração não foi medida com o rigor necessário, mas imagine ver um Gol Bola fase 3 cantar pneu e deixar carros 70% mais potentes, com motor 1600cc, comendo borracha queimada.

  Gurgel mantém por sua conta o site Clube do Carro Elétrico, dá palestras e pelos dois faz o serviço da água na pedra. Ele também faz a conversão em qualquer carro. Contactos para consultas, sugestões, pedidos de palestras e outros, pelo e-mail contato@clubedocarroeletrico.com.br ou pelo telephone 61 8188-9396.

  A propósito, por que tanta gente ainda acha que petróleo dá em árvore? Dois bilhões de anos é o mínimo para as próximas reservas ficarem prontas.

A seguir, uma reportagem de Celso Zucatelli, feita em 2011: