sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

Musk escolheu a India

 

Está pensando que eles são fracos, meu amigo?

            Ao contrário das adaptações claramente caseiras que predominam no Brasil, na Índia o grau de sofisticação das conversões chega a ser superior aos carros fabricados pelas nossas finadas montadoras de fora-de-série. Mesmo as numerosas adaptações caseiras, que recheiam canais de vídeos indianos, são demonstradas de forma clara e didática, muitas vezes da forma mais barata possível, encorajando os aspirantes e provando que ferramentas podem ser usadas com vantagens como motores veiculares; são versáteis, fáceis de encontrar, relativamente acessíveis, têm uma gama incrível de potências nominais e geralmente têm uma alta eficiência energética. Uma esmerilhadeira por exemplo, daria conta fácil de um subcompacto mais antigo; Celta, Mille, Ka de primeira geração, etc. Há muitos vídeos a respeito, basta digitar "ev convertion India" e a vastidão de escolhas vai deixar vocês boquiabertos.

 

            Sem medo de críticas e de opiniões alheias, os indianos se jogam de peito aberto e acumularam o conhecimento necessário, já saíram da fase experimental, a técnica migrou para as fábricas e os modelos a combustão interna já dividem linhas de montagem com os plug-in há algum tempo, em especial os da Tata, dona da Jaguar e da Land Rover… que estão debutando com sucesso no mundo dos eléctricos puros. Como eu costumo dizer, quem comprou Cherry QQ não deveria ter problemas em comprar Tata Nano. A própria tata já tem belos protótipos em andamento para a próxima geração como o Vision. Por agora o compacto Tigor EV é o sucesso plug-in da marca, acompanhado pelo SUV Nexon… e é derivado de um carro a combustão.

 

Tata Tigor EV

            E esqueçam aqueles designs sofríveis que mais apreciam gambiarras de várias décadas em uma plataforma do meio de século passado, eles estão caprichando mesmo! Embora aqueles monstrinhos carismáticos ainda caiam no gosto do indiano, está cada vez mais difícil diferenciar um desenho indiano de um europeu. A era dos eléctricos caros de brinquedo como o minúsculo e limitado Reva já se foi.

 

Tata Vision Concept

            Seguindo o impulso moral desses transformadores, a indústria de veículos eléctricos da Índia merece respeito, contando com uma gama impressionante (especialmente para quem ainda tem aquele estereótipo terceiromundista em mente) de veículos eléctricos, que vão desde pequenas scooters com motor de liquidificador, até motocicletas com desempenho suficiente para enfrentar as rodovias. Claro que também há carros eléctricos, mas lembremos que os indianos estão prosperando honestamente, sem violações humanitárias e geopolíticas, e sem manipulações sistemáticas do câmbio e de opiniões acadêmicas, por isso ainda estão eclodindo. E o mercado de motocicletas lá é muito, mas muito forte, e as condições de uso demandam que sejam também muito robustas e confiáveis. A Prana é um caso de design respeitável com autonomia não menos, são até 225 km com uma carga. Claro que no caso do Mahindra eVerito, é apenas o Logan de primeira geração fabricado localmente e adaptado de fábrica, mas isso a China faz há décadas e provou ser eficiente para um plug-in de custo comedido e com bons resultados.

 

Os indianos são reencarnacionistas, Logan renasceu como eVerito.

            O resultado disso é que as pessoas se interessam mais em estudar e se aperfeiçoar no ramo, com as startups puxando consigo a forte indústria de tecnologia fina do país, que fornece mais insumos para o desenvolvimento dessas actividades e assim alimentando o círculo virtuoso do desenvolvimento tecnológico. Eles já têm cabedal para manufaturas mais avançadas e o interesse do consumidor é crescente, o assunto não é mais tratado como novidade pela imprensa local. Embora se admirem, os indianos vêem aqueles veículos como parte da paisagem. Decerto que ainda há muito por fazer, e a transparência da democracia indiana permite que as pendências apareçam impunemente, mas a própria população indiana está fazendo seu dever de casa.

 

O racional urbano Mahindra Treo Zor

            Em paralelo, o Estado não faz tanta questão de atrapalhar, o que explica a facilidade com que as adaptações ganham as ruas e são sucedidas por outras mais aprimoradas, ou só mais estranhas mesmo. A infraestrutura tem sido levada a sério pelos indianos, desde o saneamento básico até o apoio à logística. Tudo isso incentiva e produz mão de obra capacitada, apta a entrar na linha de montagem sem precisar aprender tudo do zero, barateando e acelerando a implementação de uma planta industrial. Praticamente tudo pode ser fabricado quase que imediatamente em território indiano, então os desembaraços aduaneiros são uma preocupação e um custo a menos para quem decidir investir lá. E quando eu digo que é praticamente tudo, é praticamente tudo mesmo! Desde aqueles famosos incensos até microprocessadores e celulares completos. Eles não negam suas tradições ao abraçar a tecnologia de ponta… como o Japão.

 

            Em resumo, eles já estão prontos e andando com as próprias pernas, enquanto nós ainda sujamos fraldas no berço esplêndido. É por isso, entre outras coisas, que a Tesla se decidiu a abrir uma fábrica na Índia, não no Brasil.

 

Para mais:

 

- Mantis Electric 

- Prana

- Principais motocicletas 

- Mahindra Electric

- Tata 

- Tigor EV 

- Nexon EV 

- Comparativo Vespa X Bajaj 

- Babaj EV aqui e aqui.