quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Dauphine Henney Kilowatt - quase deu certo.

Fonte da imagem: http://www.forum-electricite.com/intensite-electrique-batterie-voiture.htm

Em uma época em que o petróleo parecia ser eterno, ao contrário do que os cientistas já diziam, e em que o americano não queria saber de outro carro pequeno, além do Fusca, a Renault teve um representante em terras do Tio San. Foi uma tentativa frustrada, mas de um ano para cá a sua história tem sido resgatada, e o devido valor à iniciativa mal calculada.

Em 1959 a Henney transformou o Renault Dauphine, que evoluiria para o Gordini, em veículo de tração eléctrica. Decerto que as baterias eram as caras, pesadas e volumosas cumbo-ácidas, usadas em tratores. A honestidade excessiva assustou o público, embora a argumentação de uma boa opção para deslocamentos menores, como levar as criançsa á escola e ir ao mercado, fosse atraente; mas uma hora de autonomia à máxima de 60km/h, em uma época de velocidade livre nas vias expressas, fez nossos irmãos extravagantes o verem mais como brinquedo do que como transporte.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Henney_Kilowatt

Brinquedo caro e perigoso demais para crianças, um carro lento e vulnerável demais para a família, especialmente em um país onde se dirige por dias. à toda velocidade, sem precisar de passaporte. Trazia um cabo de 7,5m para as dez horas de recarga completa. Tempo demais para o americano médio apressado. Ter baterias extras não é como ter pilhas extras, para quando as em uso esgotarem. baterias tracionárias de chumbo são muito pesadas, precisam de equipamento de oficina para serem trocadas. Ou seja, ele não atendia às necessidades de uma família.

Em 1960, já com uma má fama instalada, as irrisórias dezoito baterias de dois volts, foram substituídas por doze de seis volts. Ainda era pouco para o padrão americano, mas ele já rodava uma hora à máxima de 100km/h. No trânsito urbano, a não mais do que 60km/h, poderia-se rodar por pouco mais de quatro horas, em uma época em que o fornecimento de energia já era farto, barato e muito confiável. Era parar na casa do amigo e plugar o carro na tomada.

Infelizmente, para a Henney, o Fusca já tinha feito sua fama na guerra, da qual muita gente ainda tinha fresca na memória, e os ex-combatentes não hesitavam em recomendá-lo. Não é de hoje que o carro electrico é mais caro do que o à combustão, e estamos falando de uma engenharia (francesa) com fama de duvidosa, enfrentando outra (alemã) que tinha se tornado lenda nos campos de batalha. O resultado foi o que vocês já deduziram. A marca fechou, com ela encerrou-se também a importação regular de Renaults para a conversão.

Ao contrário das tentativas eléctricas, muito tímidas e falhas de profissionalismo até então, o Dauphine Kilowatt revolucionou um mercado que estagnou por décadas, foi o primeiro plug-in puro a ter a carga e recarga regulada por transístores. Para quem não tem idéia do que isso significa, funciona mais ou menos como trocar um frentista cego por outro com visão perfeita. O cego não notaria que o tanque está cheio, até sentir o cheiro forte de combustível transbordando, e o mesmo molhando seus pés. Além do risco de estragar as baterias, os eléctricos mais antigos acabavam aumentando a conta de luz sem necessidade.

Apesar das cem plataformas importadas, só quarenta e sete ganharam as ruas. Ainda tentaram uma evolução, um Henney de 84V, que em princípio manteria 106km/h por uma hora, sem recarga. Se o ganho de velocidade é ridículo, a capacidade de arrancada, aclive e reboque subia consideravelmente. Era tarde para aproveitar os cinqüenta e três carros restantes. Ao que consta, outras empresas e particulares os aproveitaram, em versões bem aperfeiçoadas, inclusive usando baterias de zinco e prata, mas nenhuma saiu do grau de protótipo. Algumas empresas colocaram motores à gasolina no que sobrou e vendeu.

http://grandprix63.blogspot.com.br/2011/01/studebaker-lark-och-golden-gate-bron.html
Em 2001 a canadense Feel Good Cars recondicionou os remanescentes, inclusive com motores e baterias novos. Claro que os entusiastas se apressaram e passaram a pesquisar e divulgar. Inclusive o erro da Henney. Que erro? Dar ao cidadão americano menos do que ele esperava de um carro, mesmo que para justificar um preço menor. Preço e consumo ainda hoje não são determinantes para a compra do americano, imaginem na época.

Fosse um Studebaker Lark com 250km de autonomia, pelo menos, e toda a comodidade da marca dando suporte, o consumidor teria se inclinado mais sem se preocupar com o preço maior, e provavelmente ambas as companhias ainda estariam de pé. Cito a Studebaker, porque sempre foi afeita a inovações, o que acabava limitando sua lucratividade, mas rendeu pérolas para o mundo automotivo. Ao contrário da Willys, ela não tinha medo de inovar, e talvez concordasse em vender carros semi-prontos para a conversão, desde que fizesse jus à fama da marca, é claro. Em suma, a Henney certamente falhou por medo de ousar, porque pouco mais de dez anos depois, a crise do petróleo lhe teria dado um impulso fantástico.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

A boa: o Prius chegou. A má: o Prius chegou.

Ainda é caro, mas já dá para financiar.

Nas ondas da incompetência espherica de um indicado pela pasta-base aliada do governo, os carros híbridos acabaram sendo beneficiados. O regime automotivo idiota fez uma cousa meio-certa, mas por acidente, não por boa vontade.

Uma vez que ele oferece benefícios aos que bebem e poluem menos, mas não dá pelota aos que não poluem, os híbridos estão sendo beneficiados com uma taxação menor. Nesta esteira veio o Prius, cujo primeiro exemplar oficialmente em solo nacional, é do galinho de Quintino, o Zico. Mas o lançamento oficial é para Janeiro.

Dizer que é apenas modismo de quem quer parecer politicamente correcto, é um raciocínio tão simplista, quanto acreditar que carro eléctrico dá choque quando chove. Os riscos de um motor à combustão mal conservado, com velas expostas e fendidas, eletrocutarem os ocupantes, com seus milhares de volts, é muito maior, nem por isso tem-se notícias sérias a respeito. Há os babaquaras que querem só estar na crista da onda, sem serem surfistas, mas estes não contam. Tão simplista também, quanto acreditar que motor de ciclo diesel só queima óleo diesel.

O bom de o Prius vir,  é o tapa na cara dos ignorantes automotivos do ministério das minas e energia, entre outros ministérios. A nova taxação permitiu ao Toyota esquisito ficar bem abaixo dos cento e cinqënta mil reais, que muita gente pensava que fosse custar. Fala-sede ficar entre cem e cento e vinte mil. Se parece muito, vamos enumerar algumas qualidades desse feiosinho:
  • É um Toyota. Por mais que a mídia explore os deslizes, não devemos ser levianos e negar o padrão alemão de construção, que os japoneses adoptaram. Nos Estados Unidos e Japão, ainda é comum ver os primeiros Prius rodando, com as baterias originais, e já vão quatorze anos de lançamento!
  • É um carro médio de padrão internacional. O acabamento e o nível tecnológico embarcado, embora não sejam primorosos, são excelentes, tudo com matéria-prima, mão-de-obra especializada e procedência de boa qualidade. É um carro estável, silencioso, seguro e com muito espaço para a família.
  • Embora o decepcionante índice de 21km/l teime em não crescer, ainda é um consumo baixo para um carro do porte do Fiat Tipo, com a altura aproximada do Mercedes Classe A antigo. E dá, em muitas ocasiões, para se utilizar só o motor eléctrico, quando o percurso for em baixa velocidade e não muito longe. Aliás, no lento e congestionado trânsito urbano, é o recomendado.
  • As baterias foram dimensionadas para durarem toda a vida útil esperada para o carro. São 27kWh que alimentam um trifásico de ímãs permanentes de 33kWh. tirando as perdas, inclusive a da transmissão, dá para rodar uma hora em velocidade urbana, não mais que 45km/h, sem medo e sem ligar o quatro em linha. Acima de 50km/h, ele é ligado automaticamente.

A má notícia. Não será flex. Em vez de utilizar os bons motores do Corolla, ou até o do Etios, a Toyta insiste em manter a imitação de Atkinson. Embora seja mais eficiente, é um motor difícil de flexibilizar, pois usa justo a dispensa de compressão para obter mais eficiência, o que elimina o fator que dava ao etanol, a grande diferença de rendimento em relação aos motores puramente à gasolina. Resultado: é um motor eficiente, mas pouco eficaz, o que acaba dando elas por elas, na ponta do lápis. Com etanol, o argumento ecológico sem ecochatices seria muito maior.

Preciso lembrar que o Porsche Cayene híbrido, faz mais de trinta quilômetros por litro, com um V6 de ciclo otto? Não, né!

Para quem não sabe, quando o Fusca foi relançado, em 1993, só a versão à álcool atendia ás demandas de emissões, a versão à gasolina demoraria mais um ano, e vários cavalos a menos, até ficar pronta. Disto vocês imaginam o quanto a mecânica nacional beneficiaria o Prius.

Outro contra é a teimosia em manter o motor eléctrico amarrado à transmissão mecânica, como se ele precisasse. As perdas, além de inevitáveis, privam o modelo de ter a benevolente tração nas quatro rodas, se ele fosse colocado no eixo traseiro, o que também daria maior equilíbrio de massas; distribuição de peso dentro do veículo, alco crucial para a estabilidade em curvas.

Não toco em uma versão turbodiesel, porque o regime automotivo feito por burocratas burros, não diferencia um carrinho de golfe de um carro de passeio, só por causa do propulsor, e impediu a Kombi de utilizar o bom motor diesel que é feito aqui, mas só pode ser exportado.

Falar em carro caro no Brasil, é quase um pleonasmo, mas o Prius é relativamente caro. Já não é inacessível, mas ainda é caro.

Conclusão: é um híbrido defasado, em termos de resultados e comparado aos mais recentes. Por mais que a Toyota bata a tecla da alta tecnologia, pioneirismo e tudo mais, os alemães conseguem muito melhores resultados sem custarem muito mais. Alguém aí ouviu falar que a Audi está testando um protótipo que faz 90,9km/l? Pois está, e é um tipo de SUV, que não tem nenhuma obrigação de ser econômico.

Mas também é um carro já maduro, com os problemas já atenuados ou até sanados. Um dos poucos que só fizeram melhorar com o tempo, embora menos do que a Toyota é capaz. A montadora já sabe o que fazer e orientar a assistência técnica a qualquer eventualidade, o que é difícil com um Toyota. Já são dois milhões de Prius já vendidos, que constituem uma escola e tanto para a montadora.

Se eu compraria? Talvez. Feiura não é mais problema, uma vez que ser feio tornou-se quase uma regra entre os carros modernos. Tenho restrições técnicas, mas nenhum impeditivo, ainda mais que será montado aqui. Quem sabe aqui a mentalidade pro-pseudo-atkinson muda um pouco, pelo menos opcionalmente.


Website do Prius "nacional", clicar aqui
Teste do modelo que nos será vendido, clicar aqui.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Rimac e seu BMW

Fonte da imagem: http://caranddriverbrasil.uol.com.br/blogs/da-redacao/bmw-m3-eletrico-bate-recorde-de-aceleracao/3251

Já faz muito tempo que o romeno Mate Rimac converteu seu BMW coupé 1984, para rodar apenas com electricidade. Experiência que usará para construir seu super esportivo plug-in de 1088cv. Por ser um veículo destinado ao lazer e ao aprimoramento, algo que dispensa contabilidade financeira, este nunca cessou. O carro, aliás, é muito utilizado para desmitificar as limitações de um eléctrico puro. Algo que, convenhamos, depende muito do recheio do bolso.

Recentemente anunciou a quebra de recorde de aceleração medido pela FIA, fez de 0 a 100km/h em 3,3s, em um percurso de dois quilômetros de uma área militar. Menos tempo do que o necessário para ler direito a oração. O feito aconteceu em dezessete de Abril do ano passado. A demora do anúncio é uma exigência da federação para o reconhecimento de um recorde, se for pleiteada a sua chancela. Máxima de 280km/h. A aerodinâmica manda muito, em carros velozes.

A cavaliaria é respeitável, são 600cv de potência e cerca de 112kgfm de torque instantâneo, embora a reportagem fale em 96 quios. Sem maiores detalhes técnicos, posso assegurar que ele preferiu investir em baterias, motor e segurança, em vez de aparelhagem de som. Sim o carro acaba ficando pesado, caro, necessitando de freios e suspensão muito mais robustos, mas quem lida com competição precisa ter grana para sustentar seu prazer, bem como as pesquisas resultantes dele. Ser pesado reduz a eficiência, mas lembremos que o ganho de massa não é proporcional ao de potência, então a eficácia é preservada. De cara imaginei um Opala Coupé, com esses mesmos números despejados directamente nas rodas. Os leilões dos Detrans têm pilhas deles.

Claro que as baterias de grafeno ainda estão nos laboratórios, assim como os nanocapacitores de altíssima carga. A diversão dura pouco, não mais do que meia hora por recarga, se as baterias usadas forem as de polímero de lítio, as melhores disponíveis no mercado, na época. Seriam necessárias cerca de 2,5 toneladas delas para fornecer 600cv por uma hora, se bem que nenhum super esportivo roda isso em potência máxima, meia hora vendo a paisagem borrada é o máximo que eles oferecem.

Se ele colocou 600kg delas no carro, cada bateria durou de quinze a vinte minutos, por recarga, sendo necessário então, o uso de um carregador rápido, que reduziu sensivelmente a vida útil das baterias. E pelo que o vídeo abaixo mostra, elas ocupam doto o espaço dos bancos dianteiros para trás. Nada que uma reengenharia não resolva, se um dia ele decidir usar o carro para levar a família. Ah, às favas! O cara é rico, sua diversão rende dividendos técnico-científicos, trabalhou para justo para usufruir de seu trabalho.

Bem, imaginem se um carro precisasse carregar uma micro refinaria no porta-malas, para transformar petróleo bruto em gasolina! Ela duraria pouco, bem pouco, além de poluir horrores. Fora que um dispositivo assim seria extremamente frágil e potencialmente explosivo, demandando reforços caríssimos. Aquela conta de que um eléctrico polui mais em sua construção, do que um à combustão, não levou em conta TODOS os factores, ou pensam que seus carros andam sem reabastecer, trocar óleo, filtros e mais uma pancada de peças que os eléctricos dispensam?


Guerras de laudos, meus queridos. Trabalho em Vigilância Sanitária há dez anos, vivemos sendo bombardeados por elas, a maioria omitindo o que não convém a quem pagou pelos laudos; na engenharia de transportes não é nem um pouco diferente.

Dá para se fazer o mesmo em um Opala, Maverik ou Dodge V8, que estava para ser desmanchado? Sim, se topares gastar cem mil doletas na empreitada, além de um monstro destruidor de asfalto, terás autonomia para viagens bem longas. Mas um híbrido misto também seria uma opção muito atraente.

Adivinhem se a BMW não se valerá disso para promover os seus i3 e i8! Veladamente, que seja, como que dizendo "Até o nosso passado está mais apto ao futuro do que a concorrência". E por falar em bólidos, os dragsters eléctricos começam a ter uma categoria só deles, porque conseguem com esses mesmos 600cv, o que os outros não fazem com menos de 2000cv... Claro que não deixar o público surdo é uma vantagem, mas sendo um entretenimento, o silêncio absoluto incomoda muito... Quem sabe, se paralelamente ao desempenho, houver uma premiação para o melhor simulador de ronco...