terça-feira, 15 de março de 2022

A chance de ouro que estão desperdiçando.

 

JAC iEV20


Apesar dos aumentos ultrajantes da energia eléctrica, os obesos preços dos combustíveis têm pesado mais a favor dos veículos eléctricos. As queixas de motoristas de aplicativos, bem como as dos usuários, são crescentes e o abandono do negócio já ameaça a modalidade, porque os táxis já estão se tornando mais vantajosos, justo o argumento que os aplicativos tinham para atrair clientes. Infelizmente os eléctricos e híbridos ainda são muito caros para a maioria, apesar de alguns incentivos já vigentes, e substancialmente caros para o que oferecem em relação aos carros à combustão interna, o que infelizmente ainda vai demorar bastante a se resolver, especialmente com essa guerra estúrdia complicando tudo. Isso não significa, porém, que não haja uma saída, embora no Brasil ainda em poucas cidades. Muita gente aluga os veículos de trabalho, desde motocicletas até caminhões e ônibus, então é perfeitamente possível nas principais metrópoles do Brasil recorrer a esse expediente para contornar a crise, pode-se simplesmente alugar um plug-in para trabalhar.

 

Não é um bicho de sete cabeças e alguns taxistas já até compraram os seus, tendo eles relatado a satisfatória redução dos custos inerentes à profissão. Alugar, ou assinar como está na moda, então seria até uma porta de entrada para aquisições futuras, como o são os aluguéis de carros de luxo para eventos. O problema é que essa modalidade para eléctricos está quase que exclusivamente concentrada no eixo Rio – São Paulo, justo onde está concentrada a infraestrutura de praticamente tudo neste país, e desconheço quem alugue motocicletas e caminhões eléctricos. Talvez o desenrolar dessa crise dentro de uma crise que já estava dentro de outra crise gere a demanda necessária, tomara, mas isso depende do consumidor.

 

Vamos então à parte boa dessa história medonha. Tanto entregadores quanto condutores, sejam autônomos, taxistas ou aplicativos, rodam muitas horas quase ininterruptamente, sempre em velocidades moderadas e usando bastante os freios; aqui uma bronca aos motoristas em geral e às autoescolas, que negligenciam MUITO o treinamento e uso do freio motor, que pode evitar a maioria dos acidentes por travamento das rodas. Essas características de rodagem, velocidade e uso dos freios é perfeita para quem tem um eléctrico, a maioria absoluta deles tem frenagem regenerativa, que bem utilizada garante algumas horas a mais de autonomia. Não obstante esse recurso, e os valores da diária ainda serem compatíveis com os pares à combustão, o consumo de energia das baterias é irrisório quando se estiver preso em congestionamentos. Um Golf por exemplo pode ser alugado por menos de R$400,00 por dia, a assinatura mensal de um Zoe sai por cerca de R$3890,00; menos de R$110,00 por dia. Há o caso de um motorista de aplicativo que pegou um JAC iEV20 e agora está rindo para as paredes.

 

Decerto que os carros modernos já são muito silenciados (vai tirar aquelas centenas de quilos de material acústico para ver) mas a experiência da clientela que prefere ser conduzida a dirigir, a mais exigente, será muito melhor, a ponto de talvez até precisar ser avisada de que chegou ao destino. Um motorista de aplicativo roda em média 3000 km por mês, ou 100 km por dia, que é um terço da autonomia da maioria dos eléctricos puros à venda no Brasil. Isso daria dez recargas completas por mês. Em Goiás o kWh custa no máximo R$0,60, a bateria do Zoe acumula 52kW, então uma recarga completa custaria aqui R$31,20 para rodar até 380 km. Então as dez recargas mensais custariam R$321,00, dando e sobrando para a rodagem média de taxistas e aplicativos. Quanto vocês gastam mesmo por mês em combustível? Sem contar que o eventual radiador das baterias não vai ferver.

 

O progresso desse negócio pode vir a beneficiar também os entregadores, porque a motoquinhas eléctricas mais simples e baratas, que nem rezando rodam mais do que 70 km com uma carga, custam mais de R$10.000,00. Um motoboy pode rodar 250 km por dia, o que exigiria quatro recargas diárias das scooters mais simples, o que é impraticável para um profissional. Isso obriga os profissionais a escolherem modelos mais sofisticados e caros, ainda assim sem autonomia para toda a jornada com uma só carga. A solução seria alugar também baterias extras que, pelo amor de Deus, guardadas para recarregar em local seguro, garantiriam o alcance necessário e poderiam ser levaras para casa no final da jornada. Só que baterias são a parte mais cara de um plug-in então vocês entenderam a necessidade do negócio de aluguel e assinatura para nossas paisagens realmente serem recheadas por veículos eléctricos.

 

Agora a parte mais potencialmente rentável e menosprezada por locadoras e serviços de assinatura automotiva.

 

Não menos importante, até porque eles carregam o Brasil nas costas, os caminhoneiros e frotistas urbanos e intermunicipais teriam um ganho excepcional de rentabilidade. Até o momento nós só contamos com três modelos plug-in no Brasil, o consagrado E-Delivery da Volks Wagen e a dupla da BYD; eT7 e eT18. Infelizmente não me consta de haver assinatura ou aluguel de nenhum deles, então ainda ficam restritos a companhias de médio porte para cima. Os BYD eT7 e eT18 atingem suficientes 85 e 95 km/h, que é um desempenho normal para caminhões, ambos prometem pelo menos 200km de autonomia. O E-Delivery, em ambas as versões 11 e 14, promete rodar 250km, com a vantagem de ter uma rede concessionária incomparavelmente maior para qualquer eventualidade. Em todos os casos a autonomia varia muito com a carga, que pode facilmente ser maior do que o peso do caminhão, mas seguramente uma recarga pode ser necessária todos os dias.

 

A BYD também tem um furgão, que também nadaria de braçada se fosse alugável ou assinável, com bons 300 km de autonomia, suficientes pra a maioria dos trajetos diários. O T3 chegou a vender 83 unidades em Junho de 2021, o que o tornou o plug-in mais emplacado de então, mais do que qualquer hatch plug-in “popular”. Vejam bem, ele vendeu! Não foi locação, foi venda, transferência de propriedade e ônus. Se uma locadora se interessasse, até Goiânia teria alguns deles rodando e sacolejando em suas ruas esburacadas.

A Citroën tem muito discretamente, até demais para o meu gosto, o E-Jumpy, que pode ser considerado um esportivo da categoria com máxima de 130 km/h, o alcance de 330 km pode bem ser suficiente para um dia de trabalho; estão dormindo no ponto, franceses! A rede concessionária cobre praticamente todo o Brasil e quase ninguém tem conhecimento dessa versão, que é praticamente a mesma E-Expert oferecida pela Peugeot, parte do mesmo grupo. A Master E-tech da Renault se contenta com acanhados 185 km de autonomia, mas não tão baixa quanto os parcos 76cv; na certa a Renault está apostando no preço e na proposta estritamente urbana como mote. Em todo caso, as francesas estão bem atrasadas em relação à chinesa.

Com bons 250 km de autonomia, A Fiat é a que mais desperdiça o potencial de sua rede concessionária, porque menos gente ainda sabe que a Ducato Elétrica existe. Sim, o nome é só isso mesmo, sem firulas, simplório, quase que lançada a contragosto. Imaginem a rede de autorizadas Fiat oferecendo pelo país inteiro, assinaturas dessa van! Bons de lábia como são os vendedores da marca, venderia como água

 

Em suma, uma oportunidade totalmente desperdiçada de tirar o pé da lama, senhores locadores. Mercado existe, parte do marketing eu já estou fazendo. Mexam-se!

 

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2 comentários:

  1. Cheguei a ver ao menos 2 desse JAC sendo usados no Uber em Florianópolis. Quanto a utilitários, aquele Kangoo elétrico que eu costumo ver em Porto Alegre às vezes aparece com motoristas diferentes a cada dia, mas como eu nunca vi nenhuma identificação de empresa nele desconheço se é alugado ou se pertence ao operador.

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