Diante da deprimente escalada com
que a imprensa especializada dá importância e cartaz a celebritubers idiotas, e
não me darei o trabalho de colocar links para dar mais publicidade a esses
protozoários bípedes, tratei de procurar alguns youtubers úteis e selecionei
três com afinidades de tópico com o À Bateria. Não me furtando o direito de
apresentar boas gambiarras, me ative às que não põe nossas vidas em risco, bem
como projectos que apesar de não serem baratos, custam menos do que um rim.
Recomendo mesmo aos que entendem inglês a activar as legendas, porque não é o
único idioma que vocês vão encontrar. Já adianto uma coisa, motor de furadeira
serve sim para fazer o serviço, mas não daquelas pequenininhas portáteis, com
poucos watts de potência, dificilmente uma suporta o severo uso automotivo.
Também uso esses exemplos, dois
deles brasileiros, para encorajar a cultura de conversão no Brasil; afinal tem
gente que gasta cem mil bolsos para encher o carro de som e infernizar a vida
alheia, o que são então cinqüenta mil para converter um carro que poderia estar
a caminho do ferro-velho, só porque o motor não funciona mais e um novo é mais
caro do que o carro? E o Brasil foi inundado com esses carros de mecânica descartável, que são jogados ao desmanche com seus monoblocos ainda íntegros e longevos. Um Kia Clarus dos anos 1990, por exemplo, se pifar, é colocar um motor GM ou jogar fora, não vai encontrar peças se a parte eléctrica for danificada, enfim... São milhares de carros pelo país que se candidatariam com força à conversão. Os carros dos anos 1990, ainda em desprestígio por estarem "velhos" são sempre os melhores candidatos.
Começo com o pitoresco CreativeScience que
mostra projectos simples e bem práticos de fazer, como patinetes e pequenos
veículos adaptados. A tônica do canal é experimentação e aprendizado com
tentativa e erro, que o simpático indiano repassa ao espectador. É tudo muito
simples, lúdico e com potencial para reverter o estrago que radicais ecoxaropes
fizeram na idéia da mobilidade eletrificada. Provar que não precisa ter uma
fortuna para fazer algo decente é o foco. O uso de hubmotors é extensivo e
ajuda na redução de custos. Por que gastar o preço de uma CG num scooter de
baixíssimo desempenho e curta autonomia, se uma boa bicicleta convertida pode
dar conta do recado? Às vezes (como aqui) a mão de fazer gambiarra treme forte.
Bemjamin Nelson é mais amplo e
sofiscicado, com conteúdo de alto nível, se dando o luxo de fazer testes com
veículos eléctricos e convertidos; ele tem um gosto especial por conversão de
tratores antigos (como este) e de
jardim, mas tem vídeos de conversões de carros, motos e picapes. Os testes
incluem inclusive a durabilidade e confiabilidade de carregadores e baterias,
também de reparos como os de um Chevrolet Volt acidentado. Cutucar a Tesla faz
parte do passatempo. A maioria dos vídeos não é longa, ele chega a dividir o
assunto em episódios, mas mostra tudo o que importa para o espectador saber o
que deve ou não fazer.
Jeff’s Projects tem, se comparado aos demais, poucos vídeos, mas imprime sua personalidade com
conversões de carros e reaproveitamentos de componentes. A recuperação e
conversão de clássicos é o seu forte, inclusive um Panzer Mercedes-Benz 220 e um MG TF, ambos com mecânicas
originais conhecidamente caras caras e peças difíceis de conseguir; e custam os
olhos da cara. Ele explica com leveza o que e porque fez, às vezes quase
desenhando. As soluções que mostra não são definitivas e nem sempre as mais
estéticas, mas mostra a validade de não esperar ter o melhor e mais bonito para
fazer algo que funciona e resolve os seus problemas: Funcionou? É seguro? Então
vá em frente!
EV Mania é antigo, sediado na Índia já foi (não sei se ainda o tem) um
blog sobre carros eléctricos, e por isso mesmo um sobrevivente do boom de
canais que pipocaram sem critério, no início do renascimento dos carros
eléctricos. Vídeos de comparativos, testes, novos productos e explicações sobre
novas tecnologias fazem o diferencial do canal. Há inclusive um comparativo que no contexto geopolítico de
hoje soa como provocação, entre um motor indiano e um chinês… Pois é, a Índia
também fabrica essas coisas, e bem mais confiáveis, mas quem tem cartaz é a ditadura… O óbvio ululante
é posto diante de nossos olhos. Senhores, escolham suas tretas! Para quem está
iniciando nesta senda e quer saber que bagunça é essa, é um dos primeiros
canais que recomendo.
Higher Voltage é da nova geração,
embora não da última. Até o fechamento deste artigo (me metendo a jornalista de
portal) havia apenas doze vídeos, mas que compensam o investimento de tempo. Em
dois deles, o titular mostra a conversão de uma respeitável Honda Sabre para o desespero dos adoradores
de amputação de escapamento, explicando com cuidado e paciência o que foi
feito. O pouco material é, entretanto, digno de um documentário, porque ele ensina mesmo o que foi feito.
Ebikes School cujo titular mais se parece com um
irmão perdido dos Bee Gees,é o que o nome diz, mais direcionado às
motocicletas, mas tudo o que eles ensinam pode ser adaptado aos automóveis. A
videoteca não é muito extensa, ainda mais se considerar que o vídeo mais antigo
tem cinco anos, o que não é demérito, a solidez do conhecimento e a
simplicidade com que o expõe são seus diferenciais, ele ensina inclusive a
produzir baterias tracionárias a partir de simples pilhas recarregáveis;
incluindo aí métodos seguros, testes e instalação. Claro que há também as
conversões, tanto de bicicletas quanto das motocicletas, e no último vídeo
(https://www.youtube.com/watch?v=ACcMP2fTYAM) há explicações técnicas
simplificadas sobre os jargões do nosso meio; ele tamém faz um comprativo entre
motores para conversão. Tudo é feito compropriedade e sem complicações, ele tem
até livros escritos a respeito, como este.
Electric MotoVlog é um canal altamente
especializado… em uma só motocicleta, a do titular. Uma bruta Yamaha Genesis que impõe respeito, sua conversão foi desenvolvida entre sete e quatro anos atrás, data do último vídeo. O maior
mérito dessa especialização é ele ter resolvido, ao longo de quatro anos,
praticamente todos os problemas resultantes da conversão. Todo o processo é
explicado em detalhes e as soluções explicadas com a paciência que ele precisou
ter. Pode-se dizer que ele praticamente desenvolveu uma motocicleta nova, cujas
soluções encontradas a Yamaha poderia aproveitar.
Para não dizer que não temos
exemplos latinos, consegui encontrar três canais dedicados ao tópico, dois deles nossos compatriotas:
O mexicano Oscar Garcia dá sua valiosa contribuição com
conversões de vários veículos, usando de técnicas simples e confiáveis, mas de
relativamente baixo custo, encorajando os empreendedores ainda temerosos pelo que os outros pensariam. Ele vai fundo nas explicações, mas não delonga e não
nos enfada com tagarelices típicas de “youtubers”, indo directo à prática
quando o conteúdo já tiver sido passado, e às vezes a prática é
autoexplicativa. Os passeios com seus convertidos são o momento de leveza de
cada vídeo. O uso de baterias de chumbo é típico desse baixo custo, apesar das
limitações de desempenho e autonomia, mas para o percurso casa-trabalho-casa
pode ser suficiente. O tipo de gente que ajuda a evitar que seu país afunde de
vez no terceiro mundo, e que faria a imigração americana rever suas restrições,
se fosse maioria.
Klaus Fernandes é um dos que representam bem o
Brasil. O jeito maneiro e paciente de falar entrega seu gentílico, bem como as
soluções de baixo custo, mas não de baixa segurança. Iniciou há dois anos e
ainda trabalha explicando o bê-á-bá da conversão automotiva, incluindo a
montagem de uma boa bateria caseira de íons de lítio, usando as pequenas pilhas
avulsas que inundam o mercado. A humildade para deixar claro que ainda está
aprendendo e a disponibilidade pra esclarecer dúvidas, são pontos positivos
difíceis de encontrar. O longo passeio feito no carro um Effa M100 ainda em
desenvolvimento, mas já funcional, comprova que ele sabe o que está fazendo. A máxima foi de
cerca de 80km/h, o suficiente para pegar a estrada e sobra para a cidade... e ninguém anda mais do que isso com um Effa. Sim,
ele poderia ter escolhido uma minivan Mercedes-benz classe A, que tem infinitas vantagens de espaço e fiabilidade estrutural, mas como eu já
disse sobre os Mercedes é caro e difícil encontrar peças originais da marca, além de o próprio modelo
ainda ser bastante valorizado, com clubes e tudo mais pelo país… mas para quem tiver bala, fique à vontade...
Por último temos o Francisco que se dedicou a desarmar a
bomba, digo, a converter um Fiat Brava do melhor modo que pôde, explicado em
cinco vídeos ao longo de sete extensos anos. De início tinha escassos 20km de
autonomia com baterias de chumbo, depois 70km usando as de íons de lítio (para vocês verem o quanto a diferença de rendimento é desproporcionalmente maior do que o aumento do preço) de
então até agora o desenvolvimento não parou. Aliás, é este mesmo o espírito da coisa, tornar o carro um laboratório ambulante e funcional, para que o próprio uso normal ajude a pagar as salgadas despesas desse tipo de empreendimento.
Estes são apenas alguns exemplos de
youtubers que salvam a combalida reputação do termo. Há muitos mais canais e eu
me ative ao “faça você mesmo” das conversões, mas eles aparecerão à medida que
vocês forem se aprofundando na electropeia, mostrando ao robô do Youtube o que
querem ver. Então quem ficou de fora não precisa tacar pedras em mim, fiz uma
seleção muito restrita em um assunto que costuma ser tratado quase como
marginal, por causa de adaptações descriteriosas e mal feitas. Aqui vemos o lado bom da coisa.