quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

O posto e o carro eléctrico, um amor possível


Donos de posto, alegrai-vos! Vocês não vão ficar na rua da amargura, se não forem completamente idiotas, não por causa dos carros eléctricos.

Em uma reportagem sobre o avanço dos plug-in puros, um dos detratores deu, sem querer, a solução para selar o amor até então impossível entre vocês. Acontece que esses carros estão ganhando pacotes de baterias cada vez mais potentes. Nos anos setenta, o Gurgel E-400 era o top dos plug-in no mundo, com um motor de empilhadeira de 10kWh, ou 13,6cv, alimentado por nada menos do que seiscentos quilos de baterias chumbo-ácidas. Hoje, a mesma quantidade de baterias de íon de lítio alimentaria facilmente um caminhão de 100cv nominais, ou mais de 120cv, com as melhores polímero-de-lítio.

Já disse aqui que estão quase prontas, e a GM encampou, baterias 70% mais baratas e 60% mais leves. Ou seja, 600kg delas alimentariam um bólido de mais de 200cv, sem medo. As de titanato de lítio não tardam muito a chegar, poderão oferecer mais de 1cv/kg.

O contraponto desse brutal ganho de potência, é justo a potência requerida para a carga completa. Uma casa de classe média não consome mais do que 20kW por dia, imaginem ter que dar 100kW em uma noite, quando as baterias normalmente são recarregadas!

Tem que ser muito rico para ter uma estação apropriada, em casa. Primeiro porque seria realmente muito cara, não só para comprar e montar, mas também para manter. Segundo porque não poderia ficar perto de casa, seria necessário uma área devidamente isolada para abrigar a estação. Terceiro e último, porque quem pode fazer isso, vai logo encomendar uma estação de grande porte para incluir suas indústrias e outros empreendimentos, porque a diferença de preço não seria tão grande.

É aí que entra o bom e velho posto de gasolina. Para vocês, justifica ter uma estação de pequeno porte, grande o suficiente para abastecer o negócio e oferecer recargas, por preços mais baixos do que a energia doméstica. Fora que, em caso de queda de energia, as baterias dos carros podem ser utilizadas para abastecer as casas, pelo que precisariam de recargas extras e rápidas.

Assim como dá para processar óleo usado de soja e girassol em casa, separando a glicerina e fazendo biodiesel, dá para fazer pequenas recargas diárias nas baterias. Claro que cada litro desse biodiesel caseiro, renderia menos quilômetros, assim como cara hora na tomada doméstica renderia muito menos quilômetros do que um bom diesel refinado. O custo de se refinar o óleo usado é mínimo, como sua quantidade, mas não dá para encher o tanque de um caminhão com o consumo doméstico, seria necessário um maquinário que não cabe em uma residência comum.

Com a recarga dos novos eléctricos, que em breve virão com mais autonomia do que a maioria dos carros à combustão, é a mesma cousa. Conseguem-se alguns quilômetros em casa, mas para deixar o carro pronto para viajar em um tempo razoável, só com equipamento profissional de grande porte.

Ainda temos, alegrem-se donos de poços de petróleo, o facto de uma estação termo eléctrica de 100mWh, consumir e poluir muito menos do que milhares de carros que somem a mesma potência, em uso normal. Como essa matemática fecha, se é tudo motor? Fecha porque não existem dois tipos iguais de motor. Mesmo dois blocos idênticos, mas com cilindradas diferentes, apresentam diferenças de eficiência térmica, algo corriqueiro nos carros comuns.

Os gigantescos motores de ciclo diesel, utilizados em locomotivas e nas usinas termo eléctricas, trabalham com velocidades muito baixas, o combustível tem tempo de sobra para queimar. Lembrando, cada combustível tem sua própria velocidade de queima, e ela é fixa, independente de qualquer fator. Então, quanto mais devagar o motor girar, mais completa será a combustão. E ainda se pode recorrer à regeneração piroelétrica, que a BMW está aperfeiçoando.

Além do mais, essas estações estacionárias permitem filtros que são demasiadamente caros, frágeis, pesados e volumosos para uso automotivo, o que pode reduzir ainda mais as emissões, e as vantagens de a indústria petroleira passar a vender energia pura, em vez de química.

Imaginem que estacionar um caminhão diesel-híbrido, para reabastecer, pode se tornar comum antes do que vocês pensam, pois já são mais de três milhões de veículos eléctricos rodando no mundo. Dos híbridos, o Prius já superou sozinho esse número. Para o caminhoneiro dizer “Completa e recarrega”, não demora tanto tempo assim. Ó... Lá vem ele, e é uma carreta das grandes!

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