A notícia da imagem acima, vinda da excelente Autobus, tem o poder bipolar de causar tanto admiração quanto indignação.
Admiração porque uma universidade pública, que vive contando moedas para fechar o mês, conseguiu um grau de excelência digno de uma montadora. A autonomia é boa, sem ser muito grande, até porque trata-se de um projecto acadêmico. O motor utilizado é da WEG, fabricante nacional, uma unidade trifásica com pico de 400KWH, nominal de 200KWH. Um excelente motor, mas não é o topo de gama da tecnologia automotiva. É muita potência para um pacote óctuplo de 128KWH, ainda mais em um veículo que tem picos constantes de aceleração e retomada de velocidade. Por tudo isso a média de 200km de autonomia impressiona muito.
O sistema de recargas a cada parada é digno dos melhores no primeiro mundo, me atrevo a dizer que é apto a ser produzido em série e exportado, se a confiabilidade for condizente. Eu acredito que seja. O visual cabeçudo é justo para poder rebaixar o piso, é no teto que ficam as baterias, como nas arquiteturas modernas de ônibus urbanos plug-in, que não precisam de espaço para bagagem e nem lidar com as altas velocidade de uma viagem rodoviária.
Indignação porque mesmo com essa competência de engenharia, com um controle de energia que deve ter sido uma loucura para conceber, construir e calibrar, a mobilidade eléctrica ainda hoje é quase restrita aos carrinhos de crianças, vendidos em lojas a preços abusivos. Nem vou falar em bicicletas que cobram três mil reais por 250W no motor e pouco mais de 20km de autonomia.
A Marcopolo, que cedeu o veículo, teve receptividade para a nova configuração da carroceria. Há décadas o Torino é um sucesso no transporte público. Agora, uma versão eléctrica, com um pacote de baterias que sozinho pode custar mais de cem mil reais, provavelmente vai ficar só no trabalho dos acadêmicos mesmo; isso porque a quantidade utilizada reduz bastante o preço de cada célula. A não ser que alguma prefeitura meta a mão no bolso e encomende ao menos algumas unidades, mas a única cidade com cacife para tanto é São Paulo, onde a mostra aconteceu; isto também indigna.
Competência os envolvidos no projecto demonstram a muito tempo, afinal não é só de USP e ITA que vive a tecnologia experimental no país. O problema é que essa competência não tem contraparte no Estado, e ainda nem interesse de empresários com visão, que são bem poucos neste país. Provavelmente, como aconteceu com a legendária transmissão hidramatic, as patentes serão exportadas, porque aqui os custos são muito altos e grande parte dos insumos é importada.
Apesar de tudo, sejamos justos, ficou muito bom!
Página da Autobus, clicar aqui.
Página da WEG, clicar aqui.
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Página da Universidade Federal de Santa Catarina, clicar aqui.