segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Os 500 de Moscou

 


            Por que Putin respeitaria uma civilização ultraofensível, masoquista, que cultiva culpas patológicas e fala em democracia permitindo grupos fazerem apologia a ditaduras sob as máscaras de “activismo”? Digam-me qual a cidade com mais ônibus eléctricos do mundo… chutem… asseguro que a maioria absoluta de vocês errou. São Paulo tem 18, todos recentes, e é a maior frota do país; Amsterdã, orgulhosa de sua “consciência ecológica”, tem 164; Berlim, que já nem se reconhece mais, tem 200; A arrogante Paris tem 259; Londres tem 300, e é a maior frota da Europa, não russa. Moscou tem 500… quinhentos!

 


            São cem postos de recarga para as 36 rotas servidas, por enquanto, por meio milhar de ônibus modernos e bem desenhados. Essa renovação começou em 2018, com uma encomenda de cem ônibus da VAZ Group e cem da Kamaz. Os Kamaz agradaram mais e outros cem foram adquiridos em 2019, para este ano mais 400 foram encomendados; ou seja, serão seiscentos até o fim deste malogrado ano de 2020. Para 2021 serão mais 400, até o fim de 2023 serão 2300 ônibus eléctricos no que será então o transporte público sobre rodas mais limpo de todo o planeta.

 


            Como isso aconteceu? Enquanto discursos prolixos neopentecostais tentam legitimar o vandalismo e o ódio entre cidadãos, do lado de cá, na Rússia isso é crime, o próprio cidadão russo médio rejeita isso com rispidez. Moscou trabalhou em silêncio enquanto o ocidente mimizento



se escarificava e pedia desculpas a qualquer um que não fosse de seu meio. O resultado é que escrevo agora, um Estado onde a oposição não tenta destruir o próprio país, tornou o transporte público moscovita o mais invejável do mundo “ecológico” moderno. O Kamaz model 6282Electric Bus tem capacidade para 85 passageiros, tomadas USB, wifi, vagas para cadeirante e bicicleta, câmeras para auxiliar o motorista, o mesmo aliás trabalha em uma cabine que o separa dos passageiros, entre outras modernidades.

 


            Contrariando a velha tradição soviética, e o senso comum, de apostar sempre na força bruta para compensar a falta de tecnologia, o 6282 foi projectado com muito refinamento. Em vez das baratas, mas obsoletas, pesadas e volumosas baterias tracionárias de chumbo, ou as já tradicionais íons de lítio com sua boa relação custo/benefício, se valem das caras e eficientes baterias de titanato de lítio, as mesmas usadas pela Rimac. Embora sejam pacotes pequenos, que garantem não mais do que 70km de autonomia, eles justificam seu preço pela enorme capacidade de carga e descarga, podendo ir de 0 a 100% de carga em até quinze minutos, com a recarga podendo ser feita por via aérea, como nos trólebus; ou seja, eles podem rodar virtualmente para sempre. A parte mais inteligente foi utilizar pequenas porções do que há de melhor e valer-se de uma infraestrutura invejável para garantir que seja o suficiente, assim eles reduziram significativamente os custos e garantiram tanto a comodidade dos usuários quanto a longa vida útil do conjunto. Tudo isso em cima de um veículo de piso baixo, o sonho de todos os brasileiros sem carro próprio.

 


            É notável citar que essas montadoras são russas. Embora certamente haja influência tecnológica externa, simplesmente porque nada no mundo pode mais ser feito absolutamente sozinho, tudo foi desenvolvido lá dentro, e o 6282 não é o único modelo eléctrico deles. Em resumo, eles não dependem de países inimigos, ou falsos amigos, para fabricarem o que precisam. A capacidade manufatureira está em solo russo. Eles até podem importar, mas se for necessário fabricam até as telas sensíveis ao toque… ou até mesmo as baterias, já que a Rússia tem as maiores reservas de titânio do mundo… assim como o Brasil tem as maiores de nióbio… preciso desenhar?

 


            E foi assim, em silêncio, tendo apenas a imprensa especializada mais atenta por perto, que Moscou fez sozinha e em larga escala, o que os gritadores ecofinanceiros e os ideólogos neopentecostais não conseguem juntos com sua arrogância pseudo-humanitária.

Mais a respeito aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

sexta-feira, 20 de novembro de 2020

A Namíbia é bem mais do que vocês pensam

 


            As pessoas na América e especialmente na Europa, porque é vizinha continental, têm uma visão muito deturpada da África, e nossa imprensa ajuda muito a atrapalhar. Esquecendo-se de que Egito, Marrocos, África do Sul e outros países bem mais desenvolvidos do que pensam estão lá, vendem unicamente a imagem daquele bebê que se rende à fome para ser devorado por abutres; e aquele bebê, para seu governo, sobreviveu. Uma busca por arquitetura e cinema na África já refresca muito as idéias, e dilapida seus preconceitos contra os africanos... e é claro que eu vou arrancar mais uma lasca. Sim, os africanos também dirigem carros eléctricos, clique aqui e aqui, e veja.



            Vamos à Namíbia, que para vocês pode ser um dos países mais insuspeitos para constar neste blog, mas que já tem uma empresa tecnológica (das tais start-ups) especializada em conversão veicular para tração eléctrica. E não se trata de gambiarra em que se usa o bloco do motor original como suporte para o eléctrico, baterias de carro que perdem a confiabilidade se debitarem mais de um terço da carga ou coisas assim. Utilizaram em uma valente Toyota Land Cruiser, descendente de nossa indestrutível Bandeirante, baterias de lítio-fosfato de ferro e um motor apropriadamente adaptado ao veículo batizado de e-Cruiser... não, não é dos mais criativos, mas o foco foi na funcionalidade. Como tudo o que é bem feito, não saiu barato, a conversão custou 35.000 Euros.

Axel Conrad e Madryn Cosburn, os pais da empreitada com seu e-Cruiser. Photo de Lisa Plank

            O pacote conta com razoáveis 28,8kW de baterias LiFePo4, que alimentam o motor de 45kW (61,2cv) e a picape roda de 80 a 100km com uma carga. Pouco para o uso moderno de um plug-in, mas suficiente para o uso urbano corporativo, ou até breves incursões nas savanas, em que o alto torque e a baixa velocidade constante deixam a e-Cruiser à vontade; trechos quase intransponíveis e nenhuma exigência de desempenho sempre foram o habitat da linhagem da Land Cruiser. Por fora só discretas faixas brancas com "e-Cruiser" e o logo inscritos chamam atenção, que nem é tanta atenção assim, sinalizando que a proposta ´[e séria e que haverá evolução, ao contrário de pirotecnias típicas de empresas caroneiras. Eles querem crescer.

            O projecto foi tão bem feito e bem executado, que foi notícia em praticamente todos os meios de comunicação da África, mas é claro que não veremos isso nos canais dos preconceituosos combatentes do preconceito. Aliás, a população negra não rejeitou o projecto só porque foi concebido e está sendo tocado por brancos. O preconceito, inclusive contra os eléctricos, é muito maior deste lado da cerca.

            Ver mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e o site da Electric Vehicles aqui. O facebook deles aqui.