quarta-feira, 12 de março de 2014

A revolução debaixo da tinta


     Confirmados respectivamente para entrarem em produção Abril e Junho, os BMW i3 e i8 têm bem mais do que a chancela bávara como argumento para entrarem para a história. Tampouco somente pelos números impressionantes do coupé i8; 362cv de potência combinada, faz de 0 a 100 em 4,4s, e corre 47,5km com um litro de combustível.

     A maior revolução o comprador não pode ver, e beneficiará toda a indústria automobilística, inclusive as de fundo de quintal. A BMW, para dar conta da demanda, já que o primeiro ano de produção de ambos está vendido, duplicará a produção de peças de fibra de carbono. A bávara já era um dos maiores consumidores individuais do material no mundo, o que por si garantia custos mais em conta, agora desponta uma banalização benéfica da fibra de carbono no mercado mundial.

     A intenção real é estender o uso da fibra para toda a gama BMW, contando para isso com a generosidade dos consumidores típicos de eléctricos e híbridos, que pagam mais cientes de que estão financiando as pesquisas para a popularização da tração eléctrica. A julgar pelo sucesso estrondoso, muito acima do que o fabricante imaginava, isso se dará rapidamente.


     Alemães e japoneses já tinham, há alguns anos, desenvolvido métodos mais eficientes para produzir e montar peças de fibra de carbono, o que a baratearia de sobremaneira, só faltando uma montadora de grande porte adoptar a idéia. A BMW não foi a única, mas foi a que investiu mais. Ousando como nenhum outro, os alemães da Baviera apostaram no sucesso que a Tesla obteve, abandonando o bordão mendicante do "Compre porque é eléctrico" para usar o "Compre porque é bom". Com isso, o carro eléctrico deixou de ser desejo de bicho-grilo para se tornar desejo de abonados que querem ser vanguarda; os híbridos acabaram se beneficiando também.

     Para os leitores tenham uma idéia do que é essa evolução, basta imaginarem um kit-car de fibra de carbono, que hoje custa fácil mais do que o dobro do de fibra de vidro, custando apenas um pouco mais. É como um BMW Série 7, que tem cerca de 1800kg, ficar mais leve do que um Série 3, com cerca de 1450kg, sem aumento significativo de preço. Talvez nenhum.

     O resultado é fácil de se prever, qualquer motor mediano daria desempenho esportivo ao kit, algo como um VW AP2000 dar a mesma aceleração de um bom Chevrolet V8 350". A suspensão poderia ser mais barata, os freios menores, os pivôs de carros pequenos, enfim... Um buggy com motor de motocicleta de 250cc, por exemplo, já se tornaria exeqüível. Será viável, inclusive, fabricar seu carrinho artesanal em fibra de carbono. Sonho? Não, felizmente não.

     A fibra de carbono é a antessala do grafeno. Para quem nunca ouviu falar, simplificadamente, é um composto de carbono que segue a mesma linha da fibra de carbono e do grafite, esse do teu lápis mesmo. Ele supera em absolutamente tudo o aço, sendo mais leve do que o alumínio e permitindo uma precisão de engenharia que os metais não permitem. Um motor à combustão poderia ser todo feito de grafeno e fibra de carbono, podendo dispensar até a lubrificação, na maioria dos casos. Um motor de ciclo diesel assim, poderia dispensar até a refrigeração. Tudo isso está sendo financiado por quem compra carros eléctricos e híbridos de luxo.

     Para quem não entendeu ainda, vou esmiuçar. O desenvolvimento dos eléctricos e híbridos, que "não é carro de macho", está beneficiando e prolongando a existência dos seculares motores de pistões, especialmente os auxiliados por algum motor eléctrico. Os "carrinhos de mulherzinha", como se as locomotivas usassem transmissão por engrenagens, estão permitindo aos carros convencionais que coexistam com os eléctricos por mais tempo, tirando a argumentação dos ecoxaropes fundamentalistas.


     Bem, para a alegria dos endinheirados brasileiros, os dois modelos estão confirmados para o nosso mercado. No máximo até o início de 2015, já veremos i3 e i8 saindo de nossas revendas autorizadas BMW.


   E para a alegria dos ricaços com consciência ecológica, a Rolls Royce confirmou que produzirá modelos híbridos. A rejeição ao protótipo eléctrico 102 EX, segundo a marca de propriedade de BMW, se deveu à baixa autonomia e ao tempo de recarga, incompatíveis com os padrões da Flying Lady. A autonomia é cascata, a Tesla provou que quem paga o preço, tem a autonomia que quiser, e muita gente paga. O tempo de recarga afaz sentido, não tanto, mas faz. O certo é que teremos outra revolução, desta vez de conceitos, ainda que apenas para se adequar à legislação ambiental dos americanos; porque os chineses pouco se importam, quase nada mesmo.

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