Segundo várias fontes, custaria cerca de R$120.000,00, um pouco menos do que se especulava. Dinheiro que compra um Cruze ou um Corolla topo de gama. São 122cv e 28,1kgfm com promessas de até 400km de autonomia com os 49kw das baterias, ainda não informadas as condições de rodagem; podem contar com 320km em condições brasileiras de uso, o que ainda assim é uma boa autonomia. São 14kw/100km de consumo, no modo optimista. Certo, é um eléctrico com boa autonomia, então o preço se justifica, afinal produzir baterias de chumbo ainda é caro, que dirá as de íons de lítio, que só agora a Moura começou a fabricar no Brasil! Aliás, muito barato, se comparar com os R$148.000,00 que a Renault cobra pelo Zöe, a diferença quase daria para comprar uma Vespa à vista. Se comparar com os cerca de R$175.000,00 do Bolt, a diferença compra um Onix.
O que pode pesar contra é a péssima fama da CAOA, que consegue ser alvo de cuspes e aplausos ao mesmo tempo. Bem, isso para os entendidos, para o público em geral isso não é tanto um problema, desde que encontre peças de reposição em tempo hábil, quando precisar delas. Some-se a isso à desconfiança que a Cherry ainda enfrenta, não adianta dourar a pílula com discursos prolixos, isso só vai mudar com o tempo; se mudar. Ninguém ainda engole terem fracassado com um carro que custava menos de R$30.000,00.
Uma crítica ao Arrizo 5e é o painel de aspecto pobre, aparentemente todo inspirado no do Cobalt, cuja diferença para com o do Arrizo à combustão é a tela de 10,4in contra 7in. Pode não ser muita coisa para se cobrar de um Arrizo, mas é para se cobrar de um carro acima de R$100.000,00. O toque de modernidade é a troca da alavanca de câmbio por um grande botão giratório, que mesmo assim é algo familiar ao cidadão comum. Mas a qualidade da construção está muito além daqueles vídeos catastróficos que eriçaram cabelos no começo do século, em que carros chineses literalmente se desmanchavam, de para-choque a para-choque, ao menor impacto, e cujas suspensões arriariam em nossas estradas antes dos pelinhos dos pneus sumirem.
O desempenho não é fraco. Está muito aquém do que o brasileiro está acostumado com carros nessa faixa de preço, mas supre com sobra as necessidades de um sedã familiar. 152km/h e 9,7s para ir de 0 a 100km/h, segundo a Cherry é claro. Velocidade de carro dos anos 1990, mas a aceleração é digna de carros mais caros, como todo bom eléctrico. Uma sensação agradável de ter um motor de dois litros ou mais, é a desenvoltura com que ele se move, mesmo com o generoso porta-malas lotado.
Eu sinceramente não sei o que os jornalistas vêem de “sóbrio” no desenho do 5e, mas está longe de ser desagradável, especialmente se comparar com as bizarrices que as marcas tradicionais têm despejado no mercado. A grade não é exagerada, não há excessos de vincos e os faróis não tomam a frente do carro. Embora as montadoras não tenham se dado conta, discrição ainda vende.
Sem a estação de recarga, são as tradicionais oito horas para uma recarga completa em uma tomada de 110v, quatro em 220v, o que é perfeito para o uso urbano ou rodoviário de curta distância. Roda-se o dia todo e deixa-se o carro dormindo à tomada, como se recomendava já nos anos 1980, quando 80km de autonomia estava de bom tamanho.
Mesmo com toda a electrônica embarcada, que aumenta custos, peso e reduz o espaço interno, a simplicidade de funcionamento de um eléctrico deve espantar o já caricato temor do brasileiro de ficar a pé, por meses, em caso de pane. Se a CAOA souber explorar isso, é claro.
Pesa MUITO a favor o facto de ser a versão eléctrica do modelo, não um modelo excêntrico e exclusivo, o que tenham certeza, vai atrair a simpatia de mães e pais de família de classe média. A direção muito macia não é boa para a condução esportiva, mas vai de encontro ao público-alvo. Tudo isso passa a impressão de familiaridade e confiabilidade que um lançamento exclusivo não tem, fora ter acelerado muito o desenvolvimento do carro, com reflexo na excelente relação custo/benefício e menor custo de reparo, tão cara a uma “classe social” que tem muito a perder, mas não tem dinheiro para esbanjar. Em tempo, não sei por que raios a imprensa “especializada” toma trolhas como “Velozes e Furiosos” como padrão para carros e motoristas, se o comprador da vida real, o que gasta e sustenta tudo, nem gosta de correr muito.
O que mais esperar desse Cavalo de Troia? Que realmente desperte a atenção do público, venda muito e acorde as outras marcas para as soluções simples... e assim tire das grandes montadoras o acanhamento patológico de lançar versões eléctricas de modelos já consagrados; isso daria sobrevida aos sedãs, até a moda estúpida de SUV’s passar.
Correção: A CAOA embaçou um pouco o brilho do 5e, cobrando R$159.900,00. São R$12.000,00 a mais do que o Zöe, o suficiente para fazer o público pensar seriamente no Renault.
Mais sobre o Arrizo 5e aqui, aqui, aqui e aqui.
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