Fonte da imagem: http://www.forum-electricite.com/intensite-electrique-batterie-voiture.htm |
Em uma época em que o petróleo parecia ser eterno, ao contrário do que os cientistas já diziam, e em que o americano não queria saber de outro carro pequeno, além do Fusca, a Renault teve um representante em terras do Tio San. Foi uma tentativa frustrada, mas de um ano para cá a sua história tem sido resgatada, e o devido valor à iniciativa mal calculada.
Em 1959 a Henney transformou o Renault Dauphine, que evoluiria para o Gordini, em veículo de tração eléctrica. Decerto que as baterias eram as caras, pesadas e volumosas cumbo-ácidas, usadas em tratores. A honestidade excessiva assustou o público, embora a argumentação de uma boa opção para deslocamentos menores, como levar as criançsa á escola e ir ao mercado, fosse atraente; mas uma hora de autonomia à máxima de 60km/h, em uma época de velocidade livre nas vias expressas, fez nossos irmãos extravagantes o verem mais como brinquedo do que como transporte.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Henney_Kilowatt |
Brinquedo caro e perigoso demais para crianças, um carro lento e vulnerável demais para a família, especialmente em um país onde se dirige por dias. à toda velocidade, sem precisar de passaporte. Trazia um cabo de 7,5m para as dez horas de recarga completa. Tempo demais para o americano médio apressado. Ter baterias extras não é como ter pilhas extras, para quando as em uso esgotarem. baterias tracionárias de chumbo são muito pesadas, precisam de equipamento de oficina para serem trocadas. Ou seja, ele não atendia às necessidades de uma família.
Em 1960, já com uma má fama instalada, as irrisórias dezoito baterias de dois volts, foram substituídas por doze de seis volts. Ainda era pouco para o padrão americano, mas ele já rodava uma hora à máxima de 100km/h. No trânsito urbano, a não mais do que 60km/h, poderia-se rodar por pouco mais de quatro horas, em uma época em que o fornecimento de energia já era farto, barato e muito confiável. Era parar na casa do amigo e plugar o carro na tomada.
Infelizmente, para a Henney, o Fusca já tinha feito sua fama na guerra, da qual muita gente ainda tinha fresca na memória, e os ex-combatentes não hesitavam em recomendá-lo. Não é de hoje que o carro electrico é mais caro do que o à combustão, e estamos falando de uma engenharia (francesa) com fama de duvidosa, enfrentando outra (alemã) que tinha se tornado lenda nos campos de batalha. O resultado foi o que vocês já deduziram. A marca fechou, com ela encerrou-se também a importação regular de Renaults para a conversão.
Ao contrário das tentativas eléctricas, muito tímidas e falhas de profissionalismo até então, o Dauphine Kilowatt revolucionou um mercado que estagnou por décadas, foi o primeiro plug-in puro a ter a carga e recarga regulada por transístores. Para quem não tem idéia do que isso significa, funciona mais ou menos como trocar um frentista cego por outro com visão perfeita. O cego não notaria que o tanque está cheio, até sentir o cheiro forte de combustível transbordando, e o mesmo molhando seus pés. Além do risco de estragar as baterias, os eléctricos mais antigos acabavam aumentando a conta de luz sem necessidade.
Apesar das cem plataformas importadas, só quarenta e sete ganharam as ruas. Ainda tentaram uma evolução, um Henney de 84V, que em princípio manteria 106km/h por uma hora, sem recarga. Se o ganho de velocidade é ridículo, a capacidade de arrancada, aclive e reboque subia consideravelmente. Era tarde para aproveitar os cinqüenta e três carros restantes. Ao que consta, outras empresas e particulares os aproveitaram, em versões bem aperfeiçoadas, inclusive usando baterias de zinco e prata, mas nenhuma saiu do grau de protótipo. Algumas empresas colocaram motores à gasolina no que sobrou e vendeu.
http://grandprix63.blogspot.com.br/2011/01/studebaker-lark-och-golden-gate-bron.html |
Fosse um Studebaker Lark com 250km de autonomia, pelo menos, e toda a comodidade da marca dando suporte, o consumidor teria se inclinado mais sem se preocupar com o preço maior, e provavelmente ambas as companhias ainda estariam de pé. Cito a Studebaker, porque sempre foi afeita a inovações, o que acabava limitando sua lucratividade, mas rendeu pérolas para o mundo automotivo. Ao contrário da Willys, ela não tinha medo de inovar, e talvez concordasse em vender carros semi-prontos para a conversão, desde que fizesse jus à fama da marca, é claro. Em suma, a Henney certamente falhou por medo de ousar, porque pouco mais de dez anos depois, a crise do petróleo lhe teria dado um impulso fantástico.
Na época do Dauphine Henney Kilowatt, aquele cara do Eco Fusca de Manaus ainda não tinha nascido. Senão,...
ResponderExcluirSem dúvida.
ExcluirAté hoje os franceses não tem muita noção do assunto. Já os alemães,... Até os coreanos os suplantaram. Incrível isso!!!!
ResponderExcluirEu ainda não encontrei onde eles perderam o fio da meada.
ExcluirSe bobear, nem eles.
ExcluirNem eles, realmente.
ExcluirAndei muuuuito de Gordini. Adorava.
ResponderExcluirÉ um carrinho gostoso mesmo, ainda mais se não precisar trocar marchas.
ExcluirO Irmão do Décio fez uma releitura desse carrinho, se não me engano. Uma versão elétrica ou híbrida desse bichinho, principalmente se viesse com um motor decente, não o pseudo Atkinson com o qual o povo anda teimando, iria agradar muito.
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